O que o Burger King nos ensinou sobre coerência de marca, limites criativos e a nova cultura do marketing
Começando pela verdade incômoda
Sim, o Burger King deu Whopper grátis pra corno.
E não: não foi uma ideia bizarra tirada de uma reunião aleatória de brainstorm.
Foi uma ação brutalmente estratégica, ousada e coerente até a última mordida.
O “Corno Drive-Thru”, ativado no Dia dos Namorados de 2025, virou meme, polêmica e case de branding tudo ao mesmo tempo.
Mas por trás da piada, tem um jogo sério acontecendo.
Neste artigo, vamos destrinchar por que essa campanha funciona, o que ela revela sobre o marketing contemporâneo e o que a sua marca tem a obrigação de entender se quiser sobreviver num mundo onde vulnerabilidade, cultura e posicionamento se misturam o tempo inteiro.
Spoiler: não é sobre criatividade. É sobre coerência.
O que foi o “Corno Drive-Thru” (além do buzz)
Em junho de 2025, o Burger King lançou uma promoção para o Dia dos Namorados: qualquer pessoa que tivesse sido traída recentemente e levasse um “amigo testemunha” ao drive-thru ganharia um Whopper de graça.
A diretora de marketing, Giulia Queiroz, explicou:
“A ideia era transformar um momento de dor em algo leve e divertido, incentivando as pessoas a rirem de si mesmas. E claro: movimentar nosso canal drive-thru com uma ativação inesperada.”
O resultado?
Explosão nas redes sociais, cobertura da mídia, filas nos drive-thrus e, o mais importante: uma campanha 100% alinhada com o tom irreverente da marca.
A cultura do trauma virou conteúdo, e isso importa
Há uma mudança silenciosa (e poderosa) acontecendo:
As novas gerações não apenas toleram a exposição da vulnerabilidade, elas a transformam em narrativa.
Ser “corno” virou personagem, piada, música e agora, brinde.
O que antes era tabu, hoje é meme.
O que antes era dor, hoje é combustível de pertencimento.
Isso é reflexo direto de uma era em que:
a vulnerabilidade performática gera identificação,
a autodepreciação virou linguagem de conexão,
e o trauma é processado na timeline, com likes e engajamento.
A campanha do BK não só entendeu isso, como se apropriou com timing e coragem.
Mas por que isso FUNCIONA?
Aqui está o ponto: essa campanha só funciona porque o Burger King tem uma identidade de marca consolidada, ousada e coerente.
Não foi a primeira vez que a marca zombou de situações sociais.
Ela já brigou com o McDonald’s usando sarcasmo, lançou o Whopper Detonado, ironizou crises — e sempre com uma narrativa bem costurada.
Coerência de marca não é seguir uma cartilha.
É saber onde sua marca pode pisar com segurança, mesmo que o chão esteja tremendo.
O erro que muitas marcas cometem
Ver uma campanha dessas e pensar: “Vamos fazer algo parecido, só que com nossa linguagem.”
Essa é a receita perfeita para desastres de branding.
Sem estratégia, sem histórico, sem tom bem definido, marcas menores ou com posicionamento mais conservador podem:
soar oportunistas,
parecer ofensivas,
ou simplesmente forçadas.
👉 Por isso, posicionamento vem antes da ousadia.
Antes de fazer piada com a dor alheia, você precisa saber qual é o seu lugar no mundo da comunicação, e se tem licença cultural pra brincar com certos temas.
Esse ponto se conecta diretamente com nosso artigo “Posicionamento de Marca: Como se destacar da concorrência”, onde mostramos como clareza estratégica evita esse tipo de erro fatal.
Limites éticos: entre genialidade e irresponsabilidade
Toda campanha ousada pisa numa linha tênue entre criatividade e falta de noção.
E o “Corno Drive-Thru” chegou perto.
Mas aqui está a diferença:
Não houve estereótipos de gênero.
Não houve piada com minorias.
A piada era com um sentimento universal e feita com leveza.
Ética no marketing não é censura.
É saber quando a piada desarma e quando machuca.
É medir o impacto emocional de uma narrativa e a responsabilidade cultural da marca.
Se sua marca não está preparada pra isso, evite brincar com o que você não entende.
É exatamente por isso que dissemos em “Por que branding sem estratégia não funciona”: toda ação precisa nascer de um plano maior não de uma vontade passageira de viralizar.
O que sua marca pode aprender com tudo isso?
Não. Sua marca não precisa fazer piada com traição.
Mas ela precisa entender que:
✔️ Cultura muda.
✔️ O consumidor valoriza autenticidade.
✔️ Vulnerabilidade virou capital narrativo.
✔️ Posicionamento não é sobre o que você fala mas sobre o que você tem licença pra falar.
E acima de tudo:
Criatividade sem coerência é ruído. Criatividade com coerência é marca.
Conclusão: O que separa uma marca ousada de uma marca irresponsável?
O método. A identidade. A coerência.
A ação do BK não é genial apenas porque deu certo.
Ela é genial porque foi pensada com base em um posicionamento claro, ousadia estratégica e domínio narrativo da cultura contemporânea.
E esse é o ponto central da DOM/99:
Não ajudamos marcas a serem apenas criativas.
Ajudamos marcas a serem coerentes com propósito, construindo narrativas consistentes, fortes e relevantes.
Se você está tentando chamar atenção com gritos aleatórios, está perdendo tempo.
Se você está pronto para comunicar com impacto, propósito e coragem — aí sim, temos um ponto de partida.